Você, como eu, aprecia história de assombração? Então diga aí: qual espaço arquitetônico da cidade é o maior candidato a abrigar um espectro? Há quem aponte o cemitério do Bonfim. Ou o necrotério da Santa Casa, que coleciona visagens desde o fim dos 1800. Ou o bunker do Acaiaca. Poucos lembrarão da trilha tropeira que, entre abismos, levava a Nova Lima... Embora sejam jovens os 128 anos da capital de Minas (comparados aos 494 da paulista Canineia), Beagá já possui um folclore fantasmal "de peso". Pois bem, minha próxima obra é uma novela de horror gótico contemporânea. Eis a sinopse-aperitivo: flagrado pelo sistema de segurança de um edifício que agora não posso dizer qual é, um fantasma passa a atormentar a rotina de duas guardas. Ao ponto de ser convocada uma historiadora (e sua fiel escudeira) que, entre outras coisas, já publicou um pitoresco manual sobre celebridades sobrenaturais do município. Em curso, uma investigação desencava uma secreta e subterrânea passagem arquitetônica (construída antes de 1897) que por sua vez interliga nada menos que um museu, uma mansão e um parque. Tal descoberta conduz a uma figura insólita cuja façanha foi habitar, por décadas, os subsolos da cidade – e em segredo, tal qual uma Lilith moderna. O achado do nicho onde essa misteriosa personagem habitou, com seus escritos e objetos pessoais, enfim, um mergulho nessa arqueologia tão íntima permite ir juntando peças do quebra-cabeça que constituem sua biografia, a qual se funde e confunde com fatos da história da sede de Minas Gerais – metrópole esta que, isso dá uma pena danada, foi erigida sobre um bucólico arraial arrasado pra lhe dar vez e lugar. A novela dá uma carinhosa ênfase a entes fantasmagóricos amamentados e criados pelo imaginário coletivo belo-horizontino (com direito a exóticas avaliações psiquiátricas em anexo). Este livro também cede a palavra a outras lendas, também metropolitanas, mesclando suspense e um viés humorístico. Entretanto não bastará descobrir "quem" é o sigiloso espírito; será necessário saber "o que" ele pretende. Afinal tal entidade não começou a dar as caras apenas para bulir com a fantasia alheia. Quem dera fosse. Aguarde.
Fotos: Suziane Brugnara